quarta-feira, 23 de maio de 2012

Parece, mas não é!



Texto de: Ariovaldo Ramos.

Parece, mas não é!
Há textos estranhos nas escrituras sagradas.
Que pairam sobre nós, qual espada de Dâmocles, como um desafio e uma advertência.
Conclamam-nos à sabedoria e à admissão de nossa incompetência como juízes.
Os textos abaixo, por exemplo, poderiam ser classificados de: parece, mas não é!

1Co 3.15 “Se a obra de alguém se queimar, sofrerá ele prejuízo; mas o tal será salvo, todavia, como que pelo fogo.”

Aqui o foco é o ministério, não a pessoa.
Paulo fala de um ministro que parece ser joio, mas não é.
Fala de ministros que edificam, ainda que sobre o fundamento certo, com madeira, palha e feno, elementos que o fogo da história facilmente destrói.
Madeira, palha e feno são os elementos fornecidos pela sabedoria humana, vs. 19 e 20. É ensino que gera divisão, perda da consciência de corpo e da natureza da fé.
O ensino vira corrente filosófica e o dogma ideologia.
Ou leva a Igreja da fé para as obras, da graça para o mérito, da devoção para a mágica, de Deus para o ser humano, transformando este em semideus.
O ministro é um falso mestre, mas será salvo.
O ensino dele será condenado, mas ele não.
Gente que será salva, mas não vive como discípulo.
A gente deve reprovar os seus ensinos, mas não deve fazer considerações sobre a sua salvação.

Hb 6.4-8 “Porque é impossível que os que, uma vez, foram iluminados, e provaram o dom celestial, e se fizeram participantes do Espírito Santo, e provaram a boa palavra de Deus, e os poderes do mundo vindouro, e depois caíram, sejam outra vez renovados para arrependimento; visto que, quanto a eles, estão crucificando de novo o Filho de Deus, e o expondo ao vitupério. Pois a terra que embebe a chuva, que cai muitas vezes sobre ela, e produz erva proveitosa para aqueles por quem é lavrada, recebe a bênção da parte de Deus; mas se produz espinhos e abrolhos, é rejeitada, e perto está da maldição; o seu fim é ser queimada.”

Nesse texto, o foco é a pessoa e não o ministério.
O escritor fala de uma pessoa que parecia ser discípulo, mas não era.
Tudo parecia bem com ela, mas um dia ela caiu.
Cair não é um problema insolúvel, porém, essa pessoa não encontrou o caminho do arrependimento.
E isso aparece nos frutos que ela passou a produzir.
Tal como uma terra, que apesar de ser regada e lavrada muitas vezes, apenas consegue produzir espinhos e abrolhos. O seu fim é a rejeição!
Portanto, a questão aqui, não é a queda, em si, mas no que a pessoa, que caiu, se tornou.
Seus frutos indicam que o caminho do arrependimento não foi abraçado. Ela tornou-se agente do mal.
A gente não tem autoridade para emitir qualquer juízo, mas não custa nada discernir e ficar esperto!

terça-feira, 15 de maio de 2012

Um Deus que sofre





Texto de: Ed René Kivitz

O relacionamento entre Deus e a pessoa – raça humana, baseado no paradigma salvação e danação – ir para o céu ou para o inferno, pode ser interpretado pelo menos de duas maneiras. A maneira mais tradicional foi bem caricaturada pelo meu amigo Ricardo Gondim em sua “metáfora da festa”, que apresenta um Deus furioso dizendo à raça humana algo mais ou menos assim: “Vocês estragaram a minha festa, e eu vou estragar a festa de vocês. Sairei atrás de vocês com um chicote em punho, ferindo de morte todos os que se rebelaram contra mim e mostrarei quem tem a autoridade e o poder no mundo. Pouparei alguns poucos para dar ao universo um vislumbre de minha misericórdia, bondade e graça, e não terei piedade do restante da raça, que amargará no inferno, por toda a eternidade, a escolha errada que fez ao abandonar a minha festa”.
Essa descrição tradicional, que chamo de “paradigma moral”, compreende o pecado como um ato de desobediência que desperta a ira de Deus. Mas há outra maneira de perceber a relação entre Deus e a pessoa humana, que chamo “paradigma ontológico”. A metáfora do corpo pode ajudar. Imagine que Deus e a raça humana são uma unidade em que Cristo é o/a cabeça e a raça humana é o corpo. Imagine também que cada membro do corpo tem um cérebro, e que, portanto, a harmonia do corpo depende do alinhamento de todos os pequenos cérebros (dos membros) com o grande cérebro (do/da cabeça). Caso o cérebro do braço direito se rebele e comece a esbofetear o rosto, isso seria uma rebelião moral. Mas se o cérebro do braço direito reivindicasse ser amputado do corpo para viver de maneira autônoma, isso seria uma rebelião ontológica: uma pretensão de viver como ser auto suficiente, à parte do corpo, rompendo a unidade original do corpo e gerando, então, dois seres. O grande cérebro diria ao braço: “Você não conseguirá sobreviver, você não tem vida em si mesmo, sua vida depende de estar no corpo”. Mas o braço insistente, se amputaria do corpo e ao debater-se no chão, com energia residual, imaginaria ainda estar vivo, mesmo separado do corpo. Até que morresse. Nessa metáfora (quase grotesca, desculpe), Deus não estaria ocupado em punir, destruir ou condenar o braço rebelde, mas faria todo o possível para reimplantar o braço no corpo.

A “metáfora da festa”, mais popular, é bem simbolizada no famoso sermão de Jonathan Edwards, no movimento puritano da Inglaterra do século XVI, entitulado: “Pecadores nas mãos de um Deus irado”.

Alguém precisa oferecer outro sermão, que bem poderia receber como título: “Pecadores nas mãos de um Deus ferido de amor”. Nele estaria um Deus que sofre ao perceber suas criaturas se rebelando contra o amor, a verdade, a compaixão, a justiça e a solidariedade, por exemplo, e ferindo-se umas às outras. Deus seria apresentado, nas palavras de Jesus, como Aquele que “não apagará o pavio que fumega; não esmagará a cana trilhada”. Os pecadores seriam expostos não ao Deus que tem nas mãos um chicote e espuma o ódio transbordando de sua boca, mas um Deus com lágrimas nos olhos, caminhando entre os homens com laços de amor, sussurrando nas praças: “Com amor eterno eu te amo e com misercórdia te chamo”.

Depois do Fim...




Sujeito a cobrança por: Paulo Brado

Em 8 de abril de 2012, dia de Páscoa, a Bacia das Almas, sáite onde escrevi desde 2004 (e que em 2009 deu à luz um livro com o mesmo nome), passou desta para melhor, juntou-se aos seus ancestrais, foi prestar contas ao seu criador. Com um gesto um pouco excessivo e canastrão, como sempre foi da sua índole, a Bacia terminou. Fechou as portas. Continua ali onde sempre esteve, ao ar livre, mas experimenta por isso mesmo os primeiros sinais de decomposição. Ainda não tenho coragem de enterrá-la.

É claro que eu sempre soube que a Bacia não seria eterna; cheguei a anunciar a iminência do seu passamento uma vez ou duas. Mas, até que ela terminou, achei que o fim seria mais estrepitoso, mais convincente, mais relevante. Ao invés disso a Bacia, como quase todos, simplesmente apagou sem anúncio; no seu caso, de causas naturais e durante o sono, sem sofrimento e sem salvas de canhão. Como todos, deixou projetos incompletos e questões mal-resolvidas.

Naturalmente que não tenho como me desligar da sua memória sem alguma transição. Primeiro porque planejo raspar da Bacia mais um livro ou dois, um dos quais deve sair ainda este ano, com material inédito mas também com muita coisa tirada destes arquivos. Segundo porque pretendo continuar guardando aqui uma moeda ocasional, algum anúncio ou alguma inquietação, por um período de luto respeitoso de sombra e de luz, de celebração e de lamento, no espaço entre a lembrança e o esquecimento.

Porém essa atividade eventual só servirá para enfatizar o que não há como contornar: que a Bacia terminou o seu ciclo entre os homens.

Desnecessário dizer, aos leitores impenitentes que ainda não se conformaram a circular por outras partes, que seu passamento não deve ser de forma alguma lamentado. É assim que a Bacia gostaria que fosse – especialmente porque parte essencial do que venho tentando articular ao longo desses anos (ignoro com quão pouco sucesso, mas imagino) é que o que há de relevante e de interessante nesta vida acontece depois do fim.

Com frequência cada vez maior penso que a grande contribuição da mensagem cristã, a novidade que representou tamanha reviravolta no modo de se ver o mundo que, passados dois milênios, continua produzindo improváveis ebulições em todas as áreas da cultura e do pensamento – tenha sido justamente essa: a de ensinar e desafiar aos homens a viver nesta vida uma vida depois do fim.

Naturalmente, em tradições mais antigas do que o cristianismo a expectativa do fim e a ideia do fim já representavam um papel fundamental no modo como as pessoas viam o mundo. Os egípcios sonharam uma formidável viagem pós-morte rumo à eternidade nas estrelas, os gregos pesaram a sobrevivência da alma imponderável depois da cessação do corpo físico e os judeus vislumbraram um juízo final que saberia regular os desequilíbrios da terra e corrigir as injustiças desta vida. Neste sentido, os povos já mapeavam e antecipavam algum modo de existência depois do fim, e usavam esse ponto final como marco fundamental no horizonte: era ao mesmo tempo um destino e uma esperança, um vértice e uma ameaça que servia para alinhar os rumos da vida e orientar os meandros da cultura.

A sacada espetacular do cristianismo foi introduzir modos de discurso que falam, por assim dizer, de uma antecipação do fim. A mensagem evangélica pesca o fim de sua posição num futuro inalcançável (e, portanto, sempre um pouco irrelevante) e o arrasta para esta vida, para o aqui e o agora, para o fulcro sem escapatória de hoje. Imagens como batismo, ressurreição, salvação, arrependimento e novo nascimento articulam em harmonia essa mesma antecipação do fim, e abrem desse modo a perspectiva inédita de um depois que, assombrosamente, começa agora.

Cristãos são essencialmente gente que resolve ou acredita habitar, aqui neste mundo, o mundo depois do fim. É isso, basicamente isso; porém a notícia, que era uma vertigem quando foi proposta, permanece vertigem nos nossos dias. Essa conversão, essa mudança fundamental de ponto de vista, mostrou-se irresistível desde o início e (a despeito de todos os mal tratos a que se submeteu a ideia original) não perdeu de todo o seu fascínio ao longo das gerações. No fim das contas essa é uma perspectiva (talvez a única, embora possa ser articulada de várias formas) capaz de imprimir, em cada um, uma luz nova e sem precedentes sobre as coisas e os ritmos de sempre.

Quer seja um rei ou um escravo, um ser humano que por alguma razão passa a acreditar-se habitante do mundo depois do fim sente-se de modo súbito e inesperado alçado de vítima à condição de senhor do seu mundo. Seu status de sobrevivente o torna de certo modo invulnerável, uma figura sempre um pouco subversiva e inerentemente perigosa para o sistema.

Como o mundo dos limites usuais e das coisas de sempre deixa de repente de ser o seu mundo, esse cara deixa finalmente de sentir-se neste mundo como um estranho e como um estrangeiro. O tempo e o corpo e as vastidões acima das propriedades e o chão dos pés descalços e o toque dos rios; todo o espaço da vida passa a ser uma herdade recuperada a ser experimentada com inteireza e com serenidade, com uma desilusão redentora que é ao mesmo tempo uma espécie autossuficiente de felicidade.

Para um habitante do sempre saturado mundo ocidental, essa doce desilusão que é uma cura consiste na salvação.

Porque, como seres humanos que somos, vivemos de tentar atribuir significado ao que não tem, pelo que sabemos, significado algum. Essa tarefa sem fim de espalhar significados ao longo do curso de um universo frio e perplexo se chama cultura e fé e, muito pobremente, civilização.

Essa missão exigentíssima e mortal nos consome e nos define, pelo que vivemos incessantemente buscando um sentido que sobreviva à cessação definitiva, ao momento em que o universo nos devorará finalmente a carne e as ideias: um sentido que sobreviva depois do fim.

É naturalmente por isso que ouvimos histórias, participamos de ritos e lemos livros: porque as histórias e os livros e os ritos terminam vez após outra e nós perduramos, ao menos por um pouco de tempo. Toda a cultura consiste no elencar desses rituais que encenam um processo conduzido solenemente até um fim a que podemos, ao contrário daquele definitivo, sobreviver. Não há na realidade livros bons ou satisfatórios, mas mesmo os livros mais medíocres terminam, e é sobreviver a esse senso de conclusão e de resolução a redenção que procuramos neles e neles encontramos.

A esperança é a última que morre, e só não morre porque sobrevive de alimentar-se da longa fila de fins transitórios e transicionais que antecipam o último. Resta sempre a esperança que o próximo fim suplente se mostrará maior e mais suficiente do que este que acabamos de deixar para trás.

É tola e é só uma esperança, mas se deixasse de ser uma coisa deixaria também de ser a outra.

sexta-feira, 11 de maio de 2012

Não sois deuses, homens é que sois



[C. S. Lewis, Mero Cristianismo. São Paulo: Martins Fontes, 2005]

A partir do momento em que você tem um “eu”, surge a possibilidade de colocá-lo em primeiro lugar, de querer ser o centro – de querer, na verdade, ser Deus. Foi esse o pecado de Satanás; e esse também o pecado que ele ensinou à raça humana. Algumas pessoas pensam que a queda do homem está relacionada ao sexo, mas isso é um erro. (O livro de Gênesis na verdade sugere que a depravação da nossa natureza sexual foi resultado da queda, e não sua causa). O que Satanás colocou na cabeça dos nossos ancestrais mais remotos foi a ideia de que eles poderiam ser “como deuses” – que poderiam depender de si mesmos como se tivessem sido seus próprios criadores. “Sejam seus próprios mestres”, dizia ele, “Inventem o tipo de felicidade que vocês desejam para si mesmos, fora de Deus”. E foi dessa tentativa desesperada que surgiu praticamente tudo o que se relaciona ao que chamamos de história humana: dinheiro, pobreza, ambições, guerras, prostituição, classes, impérios, escravidão. A longa e terrível história do homem à procura de algo diferente de Deus para lhe trazer felicidade.

domingo, 6 de maio de 2012

Amor verdadeiro


Texto de: Felipe d'Oliveira

O amor está banalizado hoje em dia, dizemos que amamos qualquer coisa e qualquer pessoa.
Amor verdadeiro não é na primeira crise ou situação adversa que você desiste!
Amor verdadeiro não está na conta bancaria e sim no coração!
Amor verdadeiro não é aquele que se tem com interesses pessoais!
Amor verdadeiro não é aquele para se esquecer de um relacionamento passado!
Amor verdadeiro não é só querer e não abrir mão e ceder as suas vontades e desejos!
Amor verdadeiro não é aquele que só se prende em palavras nas redes sociais!
Amor verdadeiro não é preso em uma noite de prazer!
Amor são duas pessoas em uma, se entregando de tal forma um ao outro que o interesse maior de cada um é ver o outro feliz e satisfeito em estar do seu lado!
Amor é uma vertente infindável!
Amor tem começo, meio, porem não tem fim!
Amor é entrega e não conquista!
Amor pode até trazer sofrimento, mais nunca está desamparado quem está sofrendo, pois no amor o sofrimento é em conjunto!
Amor é algo muitas vezes inexplicável e em todas as ocasiões e momentos é sentido!
Amor é real, traz paz, conforto e todos os sentimentos possíveis!
Amor se sente!
Amor gera lágrimas e traz sempre compreensão!
Amor é perfeito quem não é perfeito é o ser humano, todos falhamos inclusive no amor!
Mesmo em meio a erros, no amor há perdão o suficiente para existir um recomeço!
Acredito, sim, no Amor!
Amor traz paz em meio a guerras, traz alegria em meio ao pranto e traz companhia em meio a solidão!
Amor verdadeiro não arruma data para sair, está com você sempre!
Amor verdadeiro é aquele que a agonia do peito não consegue explicar!
Enfim Amor é tão simples e complicado que só quem ama de verdade pode descrevê-lo.

quinta-feira, 3 de maio de 2012

Há bondade sim no ser humano


Reflexão de: Felipe d'Oliveira

Para começar meu pensamento, convido você a olhar como nós cristãos - crentes em Deus - a responder para si mesmo essas perguntas:

Como olhamos para o humano?
O que vemos no humano?
O que esperamos do humano?

Na maioria das vezes quando vamos olhar para o próximo no sentido de relacionamentos, negócios, amizades, enfim em nos nossos network somos sempre levados a olhar e focar o lado ímpio que pelo dito popular nos deixa sempre com o pé atras ao nos relacionar em qualquer área com qualquer pessoa. Pensamos e na maioria das vezes agimos assim porque fomos criados e instruídos - sejam por pais, amigos, lideres, professores, pastores, jornais - a desconfiar de tudo e, quase, todos que nos rodeiam. Esses ensinamentos, de certa forma errados, nos fazem abrir mão de muitas pessoas para o reino de Deus. Pois se todos que nos rodeiam são maus então devemos considerar que todos são ímpios.

A verdade que salta de a nós quando lemos a Biblia é de que Deus não olha para imperfeições humanas, porem o que vivemos é esse estereótipo que construímos entre nós não faz sentido algum quando olhamos para Deus. Deus em sua formosura ainda consegue achar algo de pio -  que denota caridade, tem um fim caritativo ou piedoso e é benigno, compassivo, misericordioso - em todos os seres humanos, e por que nós seres humanos ainda olhamos sempre para o erro de nosso próximo? Porque trazemos sempre a tona os erros de nosso próximo? Porque não o abraçamos, pois mesmo nosso próximo tendo imperfeições ele ainda tem algo de bom dentro dele. "Ninguém é absolutamente mau, como também ninguém é absolutamente bom" - já dizia Ricardo Gondim.

Precisamos quebrar está barreira em nossos pensamentos, ideias e atitudes, para conseguirmos amar mais o próximo, sentir mais a dor dele de forma tamanha que ela passe a ser nossa dor também, quebrar essa barreira  que impede nossos olhos de ver que em todos nós existe algo ruim e bom e que tudo precisa ser moldado e melhorado, inclusive em mim mesmo, pois se não quebrarmos este modelo que foi gerado, concebido e amadurecido em nossas mentes de que todos são maus e que ninguém é útil para a sociedade não iremos conseguir viver nunca em comunidade. Em Deus todos temos uma beleza e está transcende a imoralidade humana.

Busquemos então o que é pio no humano, para que deixemos de olhar como a sociedade vê e passemos a olhar como Cristo vê.

quarta-feira, 2 de maio de 2012

O Pecado na era Pós-cristã



Texto de : Ariovaldo Ramos



Num desses dias, alguém me perguntou como se deve proceder quando em pecado. Respondi o óbvio: arrepender-se. A pessoa contestou dizendo que o pecador também é vítima e precisa ser entendido como tal.

Essa me parece ser a discussão dos dias correntes: pecador ou vítima?

A Bíblia reconhece que qualquer pessoa pode ser vítima do pecado de alguém ou mesmo da conjuntura social, ou da estrutura politico-econômico-social, porém, não entende que isso possa justificar qualquer ato pecaminoso. Para a Bíblia todo ser humano é sujeito da e na história, principalmente, de sua história. Todos são pessoalmente responsáveis, ainda que possa haver atenuantes ou agravantes.

Para a Escritura Sagrada o que se pede do pecador é que se arrependa, isto é, que assuma o seu erro e a sua responsabilidade. Arrepender-se é aceitar a punição da lei. Um pecador arrependido é aquele que admite merecer a punição que a Lei de Deus prescreve para ele. Que, em última instância, é a morte: “A alma que pecar, morrerá” (Ez 18.4).

O Novo Testamento, entretanto, nos ensina que todo o pecador que se arrepender, isto é, todo o que admitir e confessar o seu pecado será por Deus perdoado, como ensina o apóstolo João (1 Jo 1.9). E, por ser perdoado por Deus, deve ser perdoado pelo ser humano a quem ofendeu. Entretanto, o pecador não tem como exigir o ser perdoado. O pecador pede perdão, mas, não o exige; pelo simples fato de que perdão não é um direito do pecador, é uma benesse do ofendido. Porque perdão é graça.

É verdade que o cristão não tem como não perdoar (Mt 6.12). Contudo, essa é uma questão entre a vítima e Deus. Além disso, o pecador não tem o direito de reclamar do sofrimento de que foi acometido como consequência de seus atos - no relacionamento ofensor e ofendido (isso não justifica o ofendido, caso sua reação seja pecaminosa). É a lei da semeadura: “Semeia-se vento, colhe-se tempestade” (Os 8.7). E é preciso que se diga que, por pior que seja o sofrimento que o pecado venha a provocar sobre o pecador, ainda é menor do que o Inferno ao qual ele fez jus.

Todo o que confessa o seu pecado será perdoado e restaurado por Deus (1 Jo 1.9). Porém, confessar é assumir a responsabilidade e admitir a justiça da punição pelo que fez. Ainda que a punição não virá pelo fato de já ter sido sofrida por Cristo.

Nesta época tal reflexão está se tornando impensável: porque vivemos numa era de vítimas. Hoje, não importa o erro que a pessoa cometa, ela é sempre vítima: seja da sociedade, seja da história, seja da economia, seja da política, seja das instituições, seja da família. Ninguém é culpado. Logo, como alguém disse: é uma época em que ninguém assume a responsabilidade, nem adia prazeres e nem se presta a sacrifícios.

Essa época é pós-cristã não porque não se fale mais de Deus (pelo contrário, provavelmente, poucas vezes na história se falou tanto de Deus), mas, porque não se fala e nem mais se admite a realidade do pecado. Esta é uma era onde não há mais pecadores, só há enfermos. É o auge do humanismo: o pressuposto de que o ser humano é intrinsecamente bom venceu; e, ora, gente intrinsecamente boa não peca, adoece. E doentes são vítimas.

O que ainda não se percebeu nesta presente época é que doentes não podem ser perdoados. Só pecadores podem ser perdoados. Logo, só pecadores podem ser restaurados; só pecadores podem ser tornados puros de toda a injustiça que cometeram. O que será dos que estão prontos para assumir que estão enfermos, mas, jamais que são pecadores? A probabilidade maior é a de continuar pecando cada vez mais e pior, contraindo, aí sim, uma doença para a qual não há cura: a voracidade de ser aceito de qualquer jeito, por julgar ter o direito de ser de jeito qualquer. Essa enfermidade coloca a pessoa a deriva dos mais grotescos apetites, tornando-a escrava dos instintos, que se tornarão cada vez mais irresistíveis. É a escravidão do pecado (Jo 8.34). E disso só se escapa quando, finalmente, a todos os pulmões o pecador confessa: “Minha culpa, minha culpa, minha máxima culpa”.