segunda-feira, 19 de dezembro de 2011

Natal dos Galhos Secos


Reflexão de: Ricardo Gondim

A estrada se alongava por infinitos quilômetros. Enquanto eu caminhava, braços secos, unhas compridas, tentáculos enormes tentavam me arrastar para dentro de uma ribanceira cinzenta. A caatinga de dezembro, que se fazia de morta para sobreviver à fúria do sol nordestino, ressuscitara só para me atormentar. Meu coração batia lento, num ritmo espaçado. Mas a cada batida, fazia estremecer meu corpo inteiro. Um medo se alastrou dentro de mim e eu suava nas palmas das mãos.

Hoje, passados quarenta anos, ainda caminho por aquela mesma estrada tortuosa e sinistra. Todos os anos, quatro dias antes do Natal, aquele dia revive em minha alma e ainda suo nas mãos.

Eu fora incumbido de levar uma má notícia ao meu tio que morava no sítio denominado de Amargoso. Mamãe, grávida de gêmeos, acabara de dar à luz. Nasceram um menino e uma menina. A menina, chamada Gelsa, não viveria. Sua existência se resumiria a apenas dois longos dias de sofrimento.

Mamãe enfrentara uma gravidez conturbada, devido a prisão de meu pai. Ainda recordo o beijo matinal que ela me dava durante o período em que o mantinham incomunicável. Era um beijo seco. A espera de um telefonema que traria a voz do seu homem, endurecia seus lábios. Toda gestação passou-se nessa agonia, que só acabou quando um jipe da aeronáutica trouxe um documento permitindo nossas visitas. Era mamãe quem conduzia os cinco filhos pela mão por alguns quilômetros até a porta do presídio. Mas, aquela antiga agonia se repetia nos procedimentos burocráticos que nos consumiam por horas; tardavam para não nos deixarem abraçar papai.

Assim, o padecer da Glícia se fez carne incompleta. Minha irmãzinha nasceu com o sistema digestivo imperfeito. Sem poder se alimentar, morreria de fome em dois dias.

Orei minhas primeiras preces por aquela estrada amedrontadora. Com minha sinceridade de criança, pedi que Deus curasse a Gelsinha e que Ele não permitisse torturarem minha mãe ainda mais. Roguei-lhe que preservasse meu pai de chorar na frente de seus algozes. Porém, Deus preferiu permanecer em silêncio. No dia 22 de dezembro, meu pai chorou e a tortura de minha mãe se tornou insuportável.

Soluços paternos ressoarão na noite deste Natal e muitas lágrimas maternais se desperdiçarão sem que haja alguém para enxugá-las. Deus parecerá distante e mudo em seu silêncio absoluto. Por isso, sinto que minha vocação é continuar viajando pelas mesmas estradas amedrontadoras de minha infância; não para levar notícias ruins, mas ser a boca de Deus, expressando novas alvissareiras. Desejo anunciar que se Deus habita no silêncio, ele não é indiferente. Quero ser seus braços para sustentar os frágeis e a resposta da prece das mães tristes. Quero que todos saibam que o Deus ausente se faz presente através de seus filhos.

Ele procura por quem se disponha encarnar sua presença entre mulheres e homens. Por isso, convido-lhe a me acompanhar por aquela estrada seca. Neste Natal, exorcizemos o medo; sejamos o consolo e a felicidade de alguém.

domingo, 18 de dezembro de 2011

A arte de ser feliz


De: Cecília Meireles

Houve um tempo em que a minha
janela se abria para um chalé.

Na porta do chalé brilhava
um grande ovo de louça azul.
Neste ovo costumava pousar
um pombo branco.

Ora, nos dias límpidos,
quando o céu ficava da mesma
cor do ovo de louça,
o pombo parecia pousado no ar.

Eu era criança,
achava essa ilusão maravilhosa e
sentia-me completamente feliz.

Houve um tempo em que a minha
janela dava para um canal.

No canal oscilava um barco.
Um barco carregado de flores.
Para onde iam aquelas flores?
Quem as comprava?

Em que jarra… em que sala,
diante de quem brilhavam,
na sua breve experiência?
E que mãos as tinham criado?
E que pessoas iam sorrir de
alegres ao recebê-las?

Eu não era mais criança,
porém minha alma ficava
completamente feliz.

Houve um tempo em que a minha
janela se abria para um terreiro,
onde uma vasta mangueira
alargava sua copa redonda.

À sombra da árvore, numa esteira,
passava quase o dia todo sentada
uma mulher, cercada de crianças.
E contava histórias.

Eu não podia ouvir, da altura da janela,
e mesmo que a ouvisse, não entenderia,
porque isso foi muito longe,
num idioma difícil.

Mas as crianças tinham tal expressão
no rosto, e às vezes faziam com as mãos arabescos tão compreensíveis, que eu participava do auditório, imaginava os assuntos e suas peripécias e me sentia completamente feliz.

Houve um tempo em que na minha janela havia um
pequeno jardim seco.

Era um tempo de estiagem,
de terra esfarelada,
e o jardim parecia morto.

Mas todas as manhãs vinha um pobre
homem com um balde e em silêncio,
ia atirando com a mão umas gotas
de água sobre as plantas.

Não era uma rega:
era uma espécie de aspersão ritual,
para que o jardim não morresse.

E eu olhava para as plantas,
para o homem, para as gotas de
água que caíam de seus dedos magros
e meu coração ficava
completamente feliz.

Mas, quando falo dessas pequenas
felicidades certas, que estão diante
de cada janela, uns dizem que essas
coisas não existem, outros que só
existem diante das minhas janelas
e outros finalmente, que é preciso
aprender a olhar, para poder vê-las assim.

sábado, 5 de novembro de 2011

O filho, o Pai e o filho (Parte 1)


Reflexão de: Felipe d'Oliveira

Vou tratar nesta reflexão dividida em 3 Partes sobre um tema pouco averiguado no texto, é importante que deixemos de olhar para o texto, mais sim que olhemos para o que há dentro das palavras.
Lucas 15:11-32
Reflitamos então:

O filho que saiu de casa

Jesus aborda nesta parábola 3 pessoas e varias situações mais nesta primeira parte olhemos para o filho que saiu de casa, o filho pródigo.
Era um rapaz que provavelmente teria um futuro brilhante ao lado do Pai, mais que tinha outro olhar para o mundo que lhe rodeava, talvez ele estava cego de ver que na casa do Pai ele tinha tudo que lhe era necessário para viver. A verdade é que ele não quis mais ficar em casa, e teve a coragem o suficiente para chegar no pai e dizer que não queria mais ficar na casa dele e continuar vivendo a rotina da casa e ter de viver todos os seus dias naquele lugar que tinha o sustento necessário para ele viver. Ele então resolve matar o pai em sua memória, lembrando que no contexto histórico da época o filho só herda a herança quando o pai falece, pede ele a sua parte da herança para poder viver a vida dele (Jesus ao falar do filho pedindo a herança do pai ainda vivo, aguçava aos seus ouvintes principalmente os judeus que de maneira alguma aceitaria este tipo de pedido de um filho). Jesus nesta parábola exorta em 3ª pessoa Deus como Pai.
O Pai amoroso e sem algum contratem então deixa o filho ir com a parte que lhe cabia da herança, o filho sai da presença (casa) do pai e vai então viver uma vida fora, uma vida de alegrias passageira de amigos irreais enfim uma vida mentirosa.
Que é assim a nossa vida quando estamos fora da casa do pai, uma vida insegura, sem direção, com pessoas que só nos levam ao fim do poço e que totaliza nossas conquistas em nada.
Longe da casa do pai este filho perdeu tudo não sobrando nada que havia levado consigo da casa do pai, houve fome naquela terra então ele começou a passar necessidades. Então ele pede a um cidadão daquela terra para se podia trabalhar para ele em troca de alimento, este cidadão enviou ele para apascentar porcos (algo que para o judeus, que ouviam Jesus naquele instante, era inaceitável pois um judeu não como porco e muito menos apascenta eles). Este filho então passou a comer a bolota que os porcos deixavam.
Mais então no versículo 17 o filho levanta a cabeça, toma nota da situação deplorável que ele chegou , em uma das partes mais lindas da Bíblia que é da humildade do ser humano em reconhecer que está errado, "Caindo em Si" - vendo a realidade - ele observa que estava errado em todas a suas atitudes e visualiza que na casa do pai até os empregados comiam melhor do que ele, e em um ato de humildade resolve voltar a casa do pai para pedir que o pai o aceita-se como um de seus empregados.
Este filho só conseguiu enxergar que estava errado, quando ele aceitou que estava errado em ter saído da casa do pai, caso contrario ele não teria visto isso, só admitindo que esta errado é que é possível "cair em si".
Este filho então volta a casa do pai com a proposta de ser um servo, então o pai o recebe o veste e festeja a volta do filho que teve a capacidade de reconhecer que estava errado ao sair do lugar de abrigo, paz e tranquilidade.

(Parte 1)

quinta-feira, 27 de outubro de 2011

Solitude


Reflexão de: Ricardo Gondim

Em um mundo de tantos príncipes, ouço um convite para ficar só. Quero distanciar-me um pouco do frenesi das ideias. Necessito sair do ruge-ruge, espairecer. Tornou-se uma urgência preservar o pouco de sanidade que me resta depois de decepções, safanões existenciais, alfinetadas espirituais. Quero sorver o silêncio como bálsamo, deixar-me conduzir pela vastidão, embrenhar-me no vazio. Ouvir a partir das ausências pode ser terapêutico.
Minha solitude pertence às estepes. Careço da grandeza que só as colinas oferecem. Se eu me sentar na pedra que se inclina no precipício, desacompanhado dos tumultos, ouvirei, no sicio da aragem, o essencial. A quietude me remenda. Se fui retalhado na arena, em algum esconderijo, sei que me costuro. Posso fazer de algum lugar remoto o atelier do supremo artesão.
Os passos que dou para fora dos povoados são esforços de não deixar-me institucionalizar. Acumulei patrões pelos anos. Resignado, desaprendi a dizer não. Abandonei-me ao gerenciamento de especialistas; todos especialistas em mandar na vida alheia. Chegou a hora de preservar um pouco do selvagem que carrego desde a minha terra natal. Já fui menino do calção, descalço. Eu não me intimidava com as cercas. Quando queria chupar manga, nadar em charcos ou cavalgar em pangarés, pulava arames farpados. Fui atrevido. Eu não carregava relógio no pulso. Agendas, normas, demandas, roteiros. Assimilei cabrestos e me domestiquei.
Devidamente adequado às exigências de gente que mal conheci, por anos evitei a liberdade do descampado. Passei a ter medo de abrir picada, de aventurar-me por trilhas nunca exploradas. Acostumei-me à sendas bem pavimentadas. Perdi o viço. De repente, anseio por algum lugar remoto, onde não vou esbarrar em ninguém. Estou certo: no anonimato, recobro antigas ousadias.
Só na amplidão do nada, aprendo a não gastar o resto de minha história a procurar aportar no impossível ancoradouro do contento. Recuso-me continuar; tenho que reconciliar-me com inadequações sem precisar responder a ninguém sobre o porquê dos devaneios que lotam a minha alma de poesia. Quando me percebo só, perco o medo de questionar. Desacompanhado, não assusto, não frustro, não decepciono.
Para que homogeneizar-me? Ficar igual seria despersonalizar-me. O fardo de cumprir o padrão imposto seria um suicídio em vida. Devo retrair-me. Em algum esconderijo, ganho alguma chance de lidar com os fragmentos mal encaixados de sentimentos, ideias e comportamentos. Esses cacos, por outros desprezíveis, fazem parte de minha vida.
Sinto falta de um claustro. Edificarei algum monastério – se não conseguir espaço, o erguerei no tempo. Cheguei à idade em que não tenho mais pernas para correr de mim mesmo. Na cela desse mosteiro imaginável, serei iconoclasta. As paredes pintarei de cinza, as janelas não terão qualquer vitral. Despojado de tudo o que possa roubar a atenção, enfrento demônios, converso com anjos e desmascaro fantasmas.
Nas pegadas do Nazareno, sinto o apelo de perder-me para os aplausos, de encolher-me diante do fascínio da glória. Não sei se consigo, mas estou consciente que é nesta estrada onde se aprende: o mal tem sede de brilho e a verdadeira vida se esconde na simplicidade.

terça-feira, 18 de outubro de 2011

Naufrágio


Mensagens do: Pr Arcélio Luis

Conservando a fé, e a boa consciência, porquanto alguns rejeitando-a fizeram naufrágio na fé.

(Primeira carta de Paulo à Timóteo, capítulo 1 – versículo 19)

O ano era 1912.

A conquista era sem precedentes!

Tratava-se da maior conquista humana em navegação e acabou como a maior tragédia náutica de todos os tempos!

O Titanic era considerado tão seguro que não houve preocupação com botes salva vidas, pois se dizia que nada nem ninguém seria capaz de afundá-lo.

A superestimação foi fatal para aquela embarcação, repleta de milionários, do inicio do século passado. O problema é que num naufrágio estar na primeira classe não garante a sobrevivência.

A superestimação tornou fatal o desastre. A Bíblia sagrada, o Livro dos livros, o manual do Fabricando do homem, o Código da Eternidade, nos aconselha a não incorrermos no mesmo erro, dizendo: “Aquele que está em pé tome cuidado pra não cair.” (1 Coríntios 10.12).

O próprio Senhor Jesus advertiu seus discípulos dizendo para não somente orarem, mas também vigiarem a fim de não cair em tentação. Na própria oração que o Senhor ensinou, famosamente conhecida como a “Oração do Pai Nosso”, contem o mesmo ensino sobre o perigo da tentação.

O Experiente Apóstolo Paulo ao Escrever ao jovem pastor Timóteo adverte que esse naufrágio da fé vem pela perda da boa consciência, a qual nos mantém centrados, interiormente organizados, e pragmaticamente equilibrados.

A consciência é descrita em diversas ocasiões na Bíblia como algo muito importante para não naufragar na fé. Segundo o dicionário Aurélio, Consciência é s.f. “Conhecimento, noção do que se passa em nós, percepção mais ou menos claras dos fenômenos que nos informam a respeito de nossa própria existência. Sentimento de dever, moralidade.” A consciência é como uma voz interna que nos defende ou nos condena, como se tivéssemos um tribunal infalível dentro de nós mesmos, independente de sermos ou não cristãos. Isto pode ser encontrado escrito com essa clareza em Romanos 2.15.

Segundo a Palavra de Deus para não fazer naufrágio na fé a consciência precisa ser mantida limpa e pura (1 Timóteo 3.9), pelo esforço consciente. Paulo, apostolo, disse: “Por isso, também me esforço por ter sempre consciência pura diante de Deus e dos homens.” (Atos 24.16). Além do esforço consciente existe uma ação do Espírito Santo direta na consciência para ajudar a impedir o naufrágio da fé, mas mesmo essa ação do Espírito Santo passa pela permissão da pessoa humana. Ainda citando Paulo, desta vez escrevendo aos romanos: “Digo a verdade em Cristo, não minto, dando comigo testemunho, no Espírito Santo, minha própria consciência”. (Romanos 9.1).

Segundo as mesmas palavras de Paulo a Timóteo desta vez no capitulo 4, verso 2, a consciência pode muitas vezes ser cauterizada, e, nesse caso, a boca fica cheia de mentiras. Já uma boa consciência gera uma fé sem hipocrisia, sem falsidade, e sem mentiras, conforme pode claramente ser lido na mesma epístola de 1 Timóteo 1.5. Segundo o autor de Hebreus, quem conserva uma boa consciência vai buscar viver de maneira digna e honrada (Hebreus 13.18). Já uma pessoa que se deixa levar pela descrença e pela impureza pode chegar a um ponto de ver a consciência ficar completamente corrompida, conforme lemos em Tito 1.15.

A difamação e a calúnia tem um poder corrosivo terrível, mas a consciência pura diante de Deus traz tranquilidade, mesmo quando somos severa e maliciosamente caluniados. Recentemente um membro do nosso ministério me contou que uma pessoa que havia nos abandonado fez certas calúnias, a maioria delas chega a ser engraçada, pela contradição nelas contidas. Outra pessoa me contou de um programa de rádio, do tipo “pastelão”, onde somente pessoas “baixíssimas” participam, que tal radialista me criticava inventando coisas absurdas (eu não assisto por dificuldade de ouvir gente desse nível), mas quando soube permaneci em paz, pelo simples fato de ter boa consciência para com Deus. “Fazendo-o, todavia, com mansidão e temor, com boa consciência, de modo que, naquilo em que falam contra vós outros, fiquem envergonhados os que difamam o vosso bom procedimento em Cristo.” (1 Pedro 3.1).

Não devemos fazer ou deixar de fazer as coisas por causa dos críticos ou por causa da punição divina, mas sim por causa da consciência. Isso é o que difere o Antigo do Novo Testamento, é o que difere o tempo de criança para o tempo da maturidade, difere o que tem aio, para o que não precisa mais de aio por causa da consciência pura, a qual só fica totalmente pura pela Palavra de Deus. Ou seja, no Antigo Testamento a lei impressa em tábuas de pedras advertia o homem de fora para dentro, mas a lei impressa na consciência pelo Espírito Santo nos adverte de dentro pra fora, e essa ultima advertência é extremamente mais eficaz, pois temos seus mandamentos impressos no coração. Assim obedecemos às autoridades não somente por medo da punição, mas principalmente por causa da consciência, não por causa do guarda, mas por causa da placa. “Portanto é necessário que lhe estejais sujeitos, não somente pelo castigo, mas também por causa da consciência.” (Romanos 13.5). E não nos esquecemos que tal purificação da consciência que impede o naufrágio vem somente da Palavra de Deus. “Aproximemo-nos, com sincero coração, em plena certeza de fé, tendo o coração purificado de má consciência e lavado o corpo com água pura”. (Hebreus 10.22).

Shalom, Nele, em quem a consciência se mantém consciente no bote salva vidas da fé.

segunda-feira, 17 de outubro de 2011

Ebenezer (1 Samuel 7.12)


Ensino de: Pr. Giovanni Diodato Neto

“Até aqui” é um ponto que fala de três olhares para o tempo: o passado, o presente e o futuro. “Até aqui” olhando-se para o passado; (Êx 3.7-9) nos diz o quanto já caminhamos. As lutas que enfrentamos, as decepções que sofremos, as dores e angústias que sentimos, as vitórias que conquistamos. Mas “até aqui” não estivemos sozinhos. Não passamos por tudo isto desamparados. Ao contrário, Deus esteve presente em todas as circunstâncias. (Sl 91.15; Sl 23.4) Ele esteve conosco em nossas dores e angústias. “Até aqui” nos fala também do presente. Se no “agora” estamos enfrentando lutas e provações, as experiências do passado nos fazem lembrar de que Deus esteve nos ajudando. E esta lembrança nos traz esperança na ajuda divina. Devemos nos momentos difíceis do presente fazer como o profeta Jeremias (Lm 3.19-25) que diante de um quadro caótico, disse: “Quero trazer a memória o que me pode dar esperança.” Procuremos trazer a memória que nas lutas e provações passadas Deus esteve nos ajudando a superá-las. Creiamos que se Ele, lá atrás, não nos abandonou, é certo que não nos faltará no presente. Se você parece não ter muita coisa para comemorar neste momento, então, traga a sua memória as vezes que Deus o livrou, as vitórias que Ele ajudou a conquistar, as bênçãos que Ele gratuitamente lhe deu, a força quando esteve fraco, o consolo quando esteve triste, a saúde, a provisão. Estas lembranças lhe encherão de esperança. Serão um fator motivador para enfrentar o presente. “Até aqui” aponta para o futuro. (Hb 2.4)(Gl 3.11) Imagine uma caminhada onde você chega num ponto e diz: “Bem, chegamos até aqui!” E olha a sua frente e vê o longo caminho a ser percorrido. É assim a vida. Chegamos “até aqui”. Contudo, “aqui” não é o nosso lugar de descanso. Há um futuro para ser conquistado. Metas a serem atingidas. Sonhos a serem realizados. Projetos a serem empreendidos. Sim. “Até aqui” tem um olhar futuro. E sabe quem estará lá no futuro conosco? DEUS!!! Ele é o mesmo ontem, hoje e eternamente. Por isso, não temamos o futuro desconhecido, nem fiquemos ansiosos por coisa alguma. Deus conhece o futuro. Se a nossa vida está em suas mãos, estaremos seguros. Ao pensar no futuro pense que Deus já está lá, aplainando o caminho, endireitando as veredas pelas quais você irá passar. E quando chegar lá, você com certeza dirá: “ATÉ AQUI NOS AJUDOU O SENHOR.”

sábado, 15 de outubro de 2011

Teimosia e esperança


Reflexão de: Pr. Ricardo Gondim

A humanidade é constante vai-e-vem. Avanços e retrocessos fazem a história alternar entre tragédia e farsa. Enquanto erradicamos a poliomielite, cometemos atrocidades. Revolucionamos as comunicações, mas permanecemos culpados dos mais horrorosos crimes.

No século XX, duas guerras mundiais se somaram a genocídios e extermínios étnicos para alterar, definitivamente, filosofia e teologia. Positivismo virou ingenuidade – quem ainda acredita no mito do progresso?

Em algum lugar, no Pentágono, numa cova rasa do Camboja, num escombro de Ruanda, jazem os ossos do “bom selvagem” de Jean-Jacques Rousseau. De Camus a Martin Luther King se discorreu sobre o “mal profundo” que aleija a humanidade. Ele existe. Entre luzes e sombras, a história se alonga, malévola, com miséria, aniquilamento de culturas, e muita, muita, dor.

Antigas formulações sobre Deus, desapareceram. Hemingway colocou na boca de Robert Jordan, personagem de “Por quem os sinos dobram”, o porquê de seu ateísmo. Para o autor, que testemunhara os horrores da Guerra Civil da Espanha, Deus não existe: “se existisse, Ele não teria permitido que eu visse o que vi com estes meus olhos”.

Por outro lado, escancarados os campos de concentração nazista, ficou claro que monstros existem. E como se multiplicam! Elie Wiesel narrou o dia em que assistiu ao enforcamento de um menino no pátio do campo onde estava preso. Perfilado, viu a criança agonizar, pendurada por minutos que pareciam uma eternidade. Ele lembra que o menino tinha “os olhos de um anjo feliz”. Na fila, Wiesel ouviu alguém perguntar: “Onde está Deus? Onde ele está? Onde está Deus, então?”. Uma voz respondeu em seu próprio coração: “Onde ele está? Ei-lo – está aqui, pendurado nesta forca”. Deus estava morto e o facínora, vivo.

Nunca testemunhei tantos horrores. Mas o pouco que vi bastou para eu refazer conceitos. Revisei o que entendia por Deus. Remexi na compreensão da vida. Distingui esperança de ilusão, ideal de compromisso, ingenuidade de realismo e comecei o árduo processo de reconstruir-me sem o imobilismo do pessimismo e sem a superficialidade do otimismo.

Depois de várias reformas, continuo a acreditar na possibilidade da vida, no potencial humano e no aparecimento de artesãos da história. Mesmo quando o encarceramento da bondade parece inexorável, vejo a bondade humana como a erva que rompe o cimento. Sob camadas de iniquidade, a virtude consegue vingar. Vinho bom pode vir do lagar onde se esmagam as uvas da ira. Creio no bem que ressurge, teimoso, como força existencial. Vivo com a esperança, sei que ventos imprevisíveis reacendem o pavio que fumega.

Vinicius de Moraes, logo após a II Guerra Mundial, em 1946, disse que “o pranto que choramos juntos há de ser água para lavar dos corações o ódio e das inteligências o mal entendido”. Sim, a humanidade é viável – caso contrário já estaria sepultada com os dinossauros – mesmo em meio a tanta ferocidade.

A maldade, mesmo universal, mesmo arraigada, não conseguiu asfixiar o bem. Os patifes têm maior visibilidade, os canalhas amedrontam, sórdidos intimidam, contudo, “onde abundou o pecado, superabundou a graça”. Por mais que o ímpio resfolegue ódio e o tirano oprima, a morte os alcançará. Eles passarão e o lento fluir da história continuará. Basta um fiapo de luz para que se desperte fome e sede de justiça em alguém. De onde menos se espera nascerão vigorosos esforços de paz.

Os Judas, os Brutus, os Pinochets, os Husseins, os Bushes, sumirão pelo esgoto da irrelevância. No fim, quando o Diretor da peça entrar no palco e avisar que o espetáculo acabou, o malvado será apenas uma nódoa. Ele próprio se condenará como personagem da Divina Comédia. E deixará, como único legado, a possibilidade de gerar indignação nos que acreditam em outro mundo possível.

Mesmo na sordidez contemporânea, o justo acena com a aurora de uma Nova Cidade; aguarda, como sentinela, a luz da aurora virar dia perfeito. O profeta do desespero tenta, mas homens e mulheres de bem resistem. É necessário que lampejos de esperança brotem nos atos simples de bordadeiras, poetisas, teólogas, operários, jornalistas, lavradores.

O milênio começou com poucas opções. Carpideiras choram no velório dos ideais – foram contratadas para despistar a festa do Grande Capital. Na ressaca do baile progressista, alguns não acreditam que sobará ânimo para o enfrentamento do desastre sócio-ambiental. Entretanto, a Imago Dei – imagem de Deus – nos olhos das crianças convida a humanidade a não entregar os pontos.

A doença que nos aflige não é para a morte. Ainda dá para virar o jogo. Enquanto pequeninos mantiverem louvor à vida e homens e mulheres não se ajoelharem no altar do cinismo, a promessa continua de pé: “Os mansos herdarão a terra”.

quarta-feira, 3 de agosto de 2011

A importância das conexões na comunicação do evangelho



Pastorial de: Rev. Hernandes Dias Lopes

Jesus foi o maior de todos os mestres. Seus discípulos o chamaram de mestre. Ele mesmo se apresentou como mestre e até seus inimigos reconheceram que ele era mestre. Jesus foi o maior de todos os mestres por causa da variedade de seus métodos e por causa da sublimidade de sua doutrina. Jesus não foi um alfaiate do efêmero, mas um escultor do eterno. Sendo o Mestre dos mestres, o maior comunicador de todos os tempos, Jesus usou com perícia invulgar importantes conexões em sua comunicação. Quero ilustrar esse fato incontroverso com suas cartas endereçadas às igrejas da Ásia Menor. Visitando as ruínas dessas históricas cidades recentemente, pude constatar de forma inequívoca essas conexões usadas por Jesus. Vejamos, por exemplo a carta enviada à igreja de Laodicéia. 1. Jesus usou a conexão geográfica. Laodicéia era uma rica cidade situada no Vale do Lico, uma fértil região, entre as cidades de Hierápolis e Colossos. Hierápolis é uma fonte termal, de onde jorram águas quentes do topo de uma montanha branca, chamada castelo de algodão. Essas águas quentes eram terapêuticas. Em Colossos, do outro lado do vale, ficavam as fontes de águas frias, também terapêuticas. Porém, Laodicéia não tinha fontes de águas. Suas águas vinham por meio de dutos desde as montanhas e chegavam à cidade mornas e sem qualquer efeito terapêutico. Jesus usa essa conexão geográfica para dirigir-se à igreja, dizendo-lhe: “Conheço as tuas obras, que nem és quente nem frio. Quem dera fosses frio ou quente. Assim, porque és morno nem frio, estou a ponto de vomitar-te da minha boca”. 2. Jesus usou a conexão econômica. Das três cidades do Vale do Lico, Laodicéia era a mais rica. Era um poderoso centro comercial. O comércio de ouro vindo de Sardes era famoso. A cidade era um dos maiores centros bancários da Ásia Menor. A igreja longe de influenciar a cidade, foi por ela influenciada. Ao olhar-se no espelho, julgou-se rica e abastada. Jesus, porém, repreende a igreja afirmando que ela era pobre e miserável e deveria comprar ouro puro para se enriquecer. Conforme o ensino de Jesus a riqueza material não é sinônimo de prosperidade espiritual. 3. Jesus usou a conexão industrial. Laodicéia era famosa pela indústria têxtil. A lã de cor escura, fabricada em Laodicéia, era famosa em toda a Ásia Menor. A cidade tinha orgulho de sua indústria têxtil. Jesus usa esse gancho para exortar a igreja, ordenando-lhe a comprar vestes brancas para se vestir, a fim de que sua vergonha não fosse manifesta. 4. Jesus usou a conexão científica. Laodicéia era o maior centro oftalmológico do Império Romano. Naquela cidade asiática fabricava-se o pó frígio, um remédio quase milagroso na cura das doenças dos olhos. Pessoas de todos os cantos do mundo viajavam para essa próspera cidade em busca de tratamento. Na cidade mais importante do mundo no tratamento de doenças dos olhos, havia uma grande cegueira espiritual, que estava atingindo a própria igreja. Então, Jesus exorta a igreja a comprar colírio para ungir os seus olhos, a fim de ver com clareza as realidades espirituais. A mensagem do evangelho é imutável. Ela atravessa os séculos e não sofre variação. Porém, precisamos conhecer a geografia, a história e a cultura da cidade onde estamos inseridos, para fazermos conexões oportunas e pertinentes na comunicação do evangelho. Precisamos ler o texto e o contexto; precisamos interpretar a palavra e o povo. John Stott, um dos maiores expositores bíblicos de todos os tempos, falecido no dia 27 de julho de 2011, disse acertadamente que o sermão é uma ponte entre dois mundos: o texto antigo e o ouvinte contemporâneo. Que Deus nos ajude a abrir os olhos espirituais para fazermos as conexões necessárias, a fim de comunicarmos com mais eficácia a mensagem gloriosa do evangelho.

quinta-feira, 21 de julho de 2011

O mistério do vazio


Reflexão de: Pr. Ricardo Gondim


Perguntas martelam noite e dia: Infantis, por que ainda não deixamos de nadar no útero cósmico? O lago do mistério nunca tem margem? Não se conhece quem pode decifrar o enigma da angústia? A realidade dos sonhos, que expõe o universo do inconsciente, não seria ainda mais real que o mundo estreito da consciência?

Intuímos as respostas, sentados ou correndo. Sabemos que nunca nos acostumaremos com imensidões. A vida, imensurável, permanecerá complexa demais e nosso tempo por aqui, bem curtinho.

Temos medo do vazio. Entupimos os dias com barulhos. Divertimos a alma com lantejoulas falsas. Mas, talvez o imarcescível só caiba no vazio.

O Tao ensina:

Trinta raios unem um eixo,
A utilidade da roda vem do vazio.

Queima-se o barro para fazer o pote.
A utilidade do pote vem do vazio.

Rasgam-se janelas e portas para criar o quarto.
A utilidade do quarto vem do vazio.

Portanto,
Ter leva ao lucro,
Não ter leva ao uso.

Talvez a vida esteja na coragem de conviver com esse vazio, de nada ter senão a nós mesmos. A respostas que tanto procuramos podem não ser respostas, mas o desvencilhar-se de pesos. Viver talvez seja se por no Caminho. Quem sabe, longe das demandas da competência, sem as vozes da cobrança, consigamos vencer os dragões que impedem de achar o verdadeiro self, essência de nós mesmos.

O Nazareno avisou: “quem quiser ganhar a vida vai perdê-la e quem ousar perder a sua vida vai ganhá-la”. O Espírito enche, mas precisa encontrar vasos vazios. Não seria esse, precisamente esse, o segredo de construir-se humano?

sábado, 18 de junho de 2011

O Reino e o Reinado


Palavra do: Pr. Ariovaldo Ramos

Vós orareis assim: Pai nosso, que estás nos céus, santificado seja o vosso nome, venha a nós o vosso reino, seja feita a vossa vontade, assim na terra como no céu. O pão nosso de cada dia dai-nos hoje. Perdoa-nos as nossas dívidas assim como nós perdoamos aos nossos devedores. E não nos deixeis cair em tentação, mas livrai-nos do mal. Pois vosso é o reino o poder e a glória para sempre, amém!

A palavra reino aparece duas vezes na oração. Na segunda frase: "Pois vosso é o reino…" Reino tem a conotação de tudo o que existe, isto é, de tudo o que é sustentado pelo DEUS . E o DEUS a tudo sustenta, pois só Ele (a TRINDADE) existe, tudo o mais subsiste nele.

Na primeira frase: "Venha a nós o vosso reino…" Reino traz o conceito de Reinado. É o pedido para que o reinado da TRINDADE seja estabelecido na terra.

É um pedido! O que pressupõe o desejo voluntário de quem pede!

Por que, a um ser todo-poderoso, se deve pedir, na realidade que Ele mesmo sustenta, a feitura de sua vontade?

O DEUS, que, por definição, tudo pode, concedeu, temporariamente, a possibilidade da rebelião, e, em o permitindo, sustenta a existência dos rebelados.

O DEUS, de toda a criação, possui todo o poder, mas, não é possuído pelo poder, daí cede espaço para a existência de consciências arbitrárias.

O DEUS decidiu que reinaria sobre os que desejassem estar sob o seu reinado.

Nesse tempo, que chamamos de hoje, o DEUS está a recrutar os que querem sobre si o reinado da TRINDADE.

Oram, conforme essa oração, os que voltaram do estado de rebelião para o estado de adoração, que é a maneira adequada de relacionar-se com o DEUS do Universo.

Não há, entretanto, nessa fase da história, boas notícias para os que fizeram essa opção.

O novo testamento começa com o DEUS sendo expulso do templo, e termina com Jesus do lado de fora da igreja.

No início do relato da nova aliança, João, o Batista, que é sacerdote da família de Arão (Lc 1.5,13), e que, portanto, se tudo estivesse sob o reinado do DEUS, estaria como sumo-sacerdote, está no ermo, dizendo ser a voz daquele que fala do deserto (Jo 1.23): o DEUS que sofreu a defenestração com a assunção do sumo-sacerdócio pelos lacaios dos romanos (Lc 3.1,2 - Hendriksen - Ed Cultura Cristã - comentários a Lucas 3.1 e João 11.49-52; 18.13, 19-28)

No final do NT, na carta à Igreja em Laodicéia, Jesus, o Cristo, está, do lado de fora, a bater à porta, na expectativa de ser ouvido. Além disso, o próprio Cristo levantou a questão de se ele, em sua vinda, em glória, acharia fé na terra (Lc 18.8). Ele falava dos seus, uma vez que fé é dom de Deus (Ef 2.8).

Pedir o reinado do Pai é submeter-se ao doloroso trabalho de transformação, protagonizado pelo Espirito Santo, que se utiliza, inclusive, das lutas diárias: Jo 15.2; Rm 5.3-5; 8.29; 2Co 3.18; Col 1.11,12; 2Tm 3.10-13; Hb 10.36, 12.1-11; 1Pe 4.12-19.

Sujeitar-se ao reinado do Pai é passar pelo sofrimento resultante da rebelião, que se manifesta na história e nos enfrentamentos espirituais: Mt 5.11,12, 10.16-39; Mc 10.29, 30; Jo 15.20; 2Co 12.10; 2Tes 1.4, 5; 2Tm 3.12; Ef 6.10-13; 1Pe 4.12-19.

Submeter-se ao reinado do Pai é perseverar frente ao engano dos falsos profetas, discernindo os seus desvios, e diante do esfriamento do amor em quase todos, dos que se definiam como seguidores do Cordeiro (Mt 24.11-13).

O Israel, no Antigo Testamento, tinha uma missão na história para o bem da humanidade; o Israel, no Novo Testamento, a Igreja (Rm 11.17), tem uma missão na humanidade para o bem da história.

O objetivo do DEUS, ao formar Israel, era trazer a criança prometida no Jardim (Gn 3.15, 12.1-3; Gl 3.16). O Israel, no AT, a deveria trazer para a história. As recompensas, nessa fase do Israel, eram históricas, o DEUS lhe prometeu que se cooperasse com Ele, nessa tarefa, comeria do melhor da terra. O Israel, no AT, tinha de chegar à terra prometida e lá ficar, porque a criança tinha lugar certo para nascer (Miq 5.2).

O papel do Israel, no NT, é anunciar a criança para todas as famílias da Terra, assim, ao contrário do que perseguia, no AT, uma terra em que mana o leite e o mel, nessa fase, Israel tem que, o tempo todo, sair de qualquer terra para ir à toda a Terra.

A amplitude e recompensa do Israel, no NT, aqui, é uma comunidade solidária e planetária (Mc 10.29,30; 1Pe 5.9) e uma história de glória na eternidade (Mt 5.12). O Israel, no NT, não pode prender-se à história, como a vivemos, para que a história da humanidade se torne bem-aventurada na dimensão da eternidade.

O Israel, no NT, a Igreja, como comunidade sob o reinado do DEUS, vive nesta história, nela sinaliza o reinado do DEUS, que já está presente em si, e influencia a sociedade para que, na medida possível, experimente os padrões do reinado, implantando a justiça onde o conseguir, e o faz para que mais da humanidade sobreviva, pelo debelamento da pobreza e de toda a sorte de opressão do homem pelo homem, mas, jamais perde o foco na eternidade, porque hoje é tempo de arrependimento, pois, toda a rebelião será debelada, e o reinado do DEUS será estabelecido, e só os arrependidos nele viverão.

Ora "venha o vosso reino", quem se arrependeu de estar em estado de rebelião; quem entende que a sociedade, também, deve se arrepender pelo estado de rebelião, que se manifesta no pecado estrutural; quem crê que Jesus, é Deus e Cristo (Mt 16.16); quem crê que virá o reinado eterno do DEUS (Mc 1.14,15); quem reconheceu ser um privilégio estar em comunidade sob o reinado; quem reconhece que só há comunidade onde há justiça; quem sabe que só pela eficácia do sacrifício do Deus Filho, manifesto na cruz (1Pe 1.18-20) e na sua ressurreição, é possível participar no reinado; quem entende que a dor da Cruz é pequena frente à vida abundante da Ressurreição, que, boa notícia, já é possível desfrutar desde agora, como indivíduo e sociedade!

sexta-feira, 13 de maio de 2011

Suprema dependência.


Reflexão do: Pr. Ricardo Gondim

Para Alysson Amorim.

“Como um pai tem compaixão de seus filhos, assim o Senhor tem compaixão... pois ele sabe do que somos formados; lembra-se que somos pó” – Salmos 103 13-14.

Somos óbvios. Convivemos com poucas opções. Não alçamos vôo. A receita do ar que respiramos não tolera variações. Com um pouco de inatividade, atrofiamos os músculos dos pés e das mãos - e do coração. Nosso sangue não pode desequilibrar. Nossa temperatura sobe cinco graus e convulsionamos.

Somos limitados. O dicionário da nossa linguagem cotidiana não lota cem páginas. O espectro da nossa audição não alcança a categoria canina. Intuímos, mas não entendemos a nossa percepção. Intolerantes à dor, desesperamos. As altitudes nos enfraquecem, os vales nos oprimem, os oceanos nos perdem.

Somos efêmeros. Não sobrevivemos às carpas. Nossa pele enruga com pouco sol, os olhos se embaçam com quatro décadas e os pêlos caem sem razão. Sacrificamos o paladar em nome da saúde, mas não conseguimos driblar a decadência. Os primeiros anos da infância jazem no inconsciente, os últimos, da velhice, na demência.

Somos carentes. Precisamos de companhia. A impertinência do outro é melhor que a solidão. Procuramos os desertos e choramos de saudade. A irritação é insuficiente para nos afastar do amor. Frágeis, suplicamos por abraços. Um sentimento de orfandade nos acorda todas as manhãs, e saímos em busca de colo. No crepúsculo, suplicamos por abrigo e canção de ninar.

Dependemos da Graça não por sermos maus, mas delicados.

sábado, 23 de abril de 2011

Paixão: A possibilidade de passar pelo sofrimento sem sofrer


Mensagem do: Pr. Ariovaldo Ramos

Jesus, o Cristo, passou por um sofrimento enorme e sem precedentes, desde que, antes da fundação do mundo, se esvaziou, assumindo a forma de servo (Fp 2.5-7), o que foi manifestado na cruz, por amor de nós (1Pe 1.18-20).

Jesus Cristo passou pelo sofrimento, mas, sem sofrer! Isto é, Jesus passou pelo sofrimento, mas, não conjugou o verbo sofrer.

Quando a gente conjuga o verbo sofrer, a gente traz o sofrimento para o espírito, a gente passa a se definir pelo sofrimento. A dor física e a tristeza, inerente ao sofrimento, passam a ser a identidade da gente. A vida passa a ser uma lamúria e a gente passa a se definir a partir do sofrimento por que passou ou passa, carregando-o para sempre como uma carteira que se mostra quando se quer falar de si.

Jesus nunca se permitiu a isso, diante da tristeza frente à truculência do sofrimento, e à traição e abandono dos seus alunos, ele continuava a afirmar que a sua vida ninguém tomava, ele a entregava para a reassumir (Jo 10.17,18). Era ele quem partia o pão e distribuía o cálice da nova aliança (1Co 11.23-26). Ele, e não o sofrimento a que se submeteu, é que estava como sujeito de sua história

Jesus, por causa desse protagonismo nunca negociado, pode dizer, no momento de dor e de abandono mais intensos: “Pai, perdoa-lhes, porque não sabem o que fazem.” (Lc 23.34) – a frase que sustenta o Universo.

Se Jesus tivesse conjugado o verbo sofrer, amaldiçoaria aos seus algozes e à toda a humanidade. A tentação de conjugar o verbo sofrer, de tornar o sofrimento na sua identidade foi vencida por Jesus o tempo todo; ele sempre manteve a sua identidade fundamentada em seu relacionamento com o Pai: “...sabendo este que o Pai tudo confiara às suas mãos, e que ele viera de Deus, e voltava para Deus, levantou-se da ceia, tirou a vestimenta de cima e, tomando uma toalha, cingiu-se com ela”(Jo 13.3,4)

Que boa notícia: a dor e a tristeza, inerentes ao sofrimento, não têm, necessariamente, de tomar o espírito e redefinir a identidade de quem passa pelo sofrimento! E, depois da queda, viver é passar pelo sofrimento, porque este foi, por nós (Gn3.17), tornado o ambiente onde toda a história se desenrola.

O mais triste, quando o sofrimento se torna a identidade da gente, é que tudo e todos passam a ser julgados ou analisados a partir do que se entende ter sofrido.

A reação da gente passa a ser, sempre, reação àquele sofrimento que sequestrou a identidade da gente, qualquer ser humano, o outro, desaparece, vira algoz ou salvador, mesmo nunca tendo participado do que sofremos, ou, mesmo que tenha sido instrumento de Deus na vida da gente algum dia, inclusive, nos ministrando ou socorrendo no momento do sofrimento. Nada mais isenta o próximo, todo mundo estará sob “júdice” , e, como disse o compositor: “Qualquer desatenção, pode ser a gota d’água.” A gente passa a gostar do martírio!

Na Paixão, Jesus, o Cristo, nos demonstra como passar pelo sofrimento mais atroz sem conjugar o verbo sofrer. Nos ensina como sofrimento algum pode nos roubar a identidade, nem tirar de nós o privilégio e a responsabilidade de ser o sujeito da nossa história. Aleluia!

terça-feira, 19 de abril de 2011

Os meus extremos.


Poema de: Pr. Ricardo Gondim

Minha vida é pêndulo. Oscilo entre o bem que desejo e o mal que rechaço. Sei que minhas sombras não são todas ruins e minhas luzes não são todas boas.

Minha vida é sístole e diástole, fluxo e refluxo. No vai-e-vem de minhas emoções choro e rio, fico e vou. Não receio mostrar covardia e hesito nas coragens.

Minha vida é dança na encosta do abismo. Prestes a despencar, no limite do perigo, corro o risco de tornar-me o fiasco do milênio. Mesmo assim, jogo e aposto atrevidamente. Mesmo sabendo que posso ferir-me, enfrento a corda bamba.

Minha vida é estrada esburacada. Nos solavancos das crateras que se abriram pelo caminho, tento aprumar-me. Não quero perder a direção. Vou por trilhas menos pavimentadas, mas vez por outra, cansado, prefiro cortar caminho.

Minha vida é simultaneidade de satisfação e fome. Os desejos cumpridos deixam sobra, um resíduo, de desprazer. Porém, por mais que as inadequações se mostrem onipresentes, celebro contente a minha sorte.

Minha vida é, ao mesmo tempo, vitrine e caverna. Convivo com plataformas e microfones. Falo para platéias. Sou fascinado por silêncios, por alcovas. Audaz com multidões e tímido com pessoas, opto por poucas palavras. Mas, dou a mão à palmatória, falo pelos cotovelos.

Minha vida é mescla de certeza e imprecisão. As dúvidas não me abalam, mas as certezas me confundem. Gosto de questionar e não tenho medo de ficar sem resposta. Os absolutos me incomodam, os dogmas me inquietam, as exatidões me deixam suspeitoso.

Minha vida é ameaça e bênção. Consciente dos ódios que já provoquei, vivo inseguro; sempre procurando redenção. Entusiasmado com a bênção que sou, alço o vôo da águia; sempre ousando novos desafios.

Minha vida é mistura de morbidez e sede de viver. Aguardo o apagar das luzes, reconheço a iminência do meu fim. Contudo, procuro desdobrar os minutos em “nano-frações” de felicidade.

Minha vida é preocupação despreocupada. Temo as contingências, mas o insólito me entusiasma . Repito aos quatro ventos que dores e alegrias entram na fabulosa receita desta existência, que o Criador projetou livre. Não há nada mais deslumbrante que a angústia, e nada mais surpreendente que a felicidade.

sábado, 2 de abril de 2011

O homem, este desconhecido


Pastorial de: Rev. Hernandes Dias Lopes

Alex Carrell escreveu um livro com este título, “o homem, esse desconhecido”. O homem conhece o mundo ao seu redor, mas não conhece a si mesmo. Explora o espaço sideral, mas não viaja pelos labirintos da sua alma. Investiga os segredos da ciência, mas não ausculta seu próprio coração. A pergunta do salmista ainda ecoa nos nossos ouvidos: “Que é o homem?” (Sl 8.4). As respostas foram muitas: “O homem é um bípede depenado”; “o homem é a medida de todas as coisas”; “o homem é um caniço agitado pelo vento”. O rei Davi, respondeu a essa pergunta de forma magistral: “Fizeste-o [...] por um pouco menor do que Deus, e de glória e de honra o coroaste. Deste-lhe domínio sobre as obras da tua mão e sob seus pés tudo lhe puseste” (Sl 8.5,6). O homem foi criado por Deus e criado para ser o gestor da criação. A origem do homem está ancorada em Deus e seu propósito é ser co-regente de Deus, como mordomo da criação. Destacamos, aqui três verdades sublimes acerca do homem.

1. O homem é a imagem de Deus criada. O homem não veio à existência por geração espontânea nem por um processo evolutivo de milhões e milhões de anos. Nossa origem não está ligada aos símios; nossa gênese está ligada a Deus. Fomos criados por ele e somos à semelhança dele. O homem é a coroa da criação de Deus. Foi criado um pouco menor do que Deus e coroado de glória e honra. Somos um ser físico e espiritual. Temos um corpo e uma alma. Podemos amar a Deus e adorá-lo. Podemos conhecê-lo e responder ao seu amor. Nenhum outro ser tem essa característica. Os anjos são espíritos, mas não tem corpos. Os animais têm corpos, mas não têm espírito. Temos corpo e espírito. Somos a imagem de Deus criada.

2. O homem é a imagem de Deus deformada. O pecado entrou na história humana com a queda dos nossos primeiros pais. O pecado atingiu todo o nosso ser, corpo e alma; razão, emoção e vontade. O pecado não destruiu à imagem de Deus em nós, mas a deformou. Agora, não podemos ver, com diáfana clareza, a imagem de Deus no homem, pois o pecado a desfigurou. Somos como uma poça de água turva. A lua com toda a sua beleza ainda está refletindo, mas não conseguimos ver essa imagem refletida; não porque a lua não esteja brilhando, mas porque a água está suja. A corrupção do pecado atingiu todos os homens e o homem todo. Todos os homens pecaram e o homem é todo pecado. Não há parte sã em sua carne. Tudo foi contaminado pela mancha do pecado.

3. O homem é a imagem de Deus restaurada. O homem criado e caído, é agora restaurado. Essa restauração, porém, não é autoproduzida. Ela não vem do próprio homem, vem de Deus. É Deus mesmo quem tomou a iniciativa de restaurar sua imagem em nós. E como Deus fez isso? Enviando seu Filho ao mundo! Ele é a imagem expressa e exata de Deus. Nele habita corporalmente toda a plenitude da divindade. Jesus veio ao mundo para nos trasladar do império das trevas para o reino da luz. Ele veio para nos tirar do calabouço da escravidão para a liberdade. Ele veio para nos arrancar das entranhas da morte para a vida. Em Cristo temos perdão, redenção e restauração. Por meio de Cristo somos feitos filhos de Deus e herdeiros de Deus. A imagem de Deus criada e, deformada pelo pecado, é restaurada por Cristo. Pela operação da graça, nascemos de novo, nascemos de cima, nascemos do Espírito e somos co-participantes da natureza divina. A glória e a honra perdidas na queda são agora restauradas na redenção!

sexta-feira, 25 de março de 2011

Fé que não desiste


Palavrial de: Pr. Mario Pereira da Silva

A frase em epígrafe faz parte do tema para o ano de 2011, em nossa IBVG. Todo crente sincero tem um desejo ardente de, cada vez mais, crer na graça, poder e amor do nosso Senhor Jesus Cristo.

Sabemos, como salvos, que a fé, além de ser um dom de Deus, precisa ser cultivada, alimentada, acrescentada. Este aumento de fé requer exercício espiritual; atitudes do coração do crente desejoso de crescer em sua vida religiosa. Exercícios tais como: vida devocional diária, oração e leitura bíblica regulares, freqüência aos cultos e participação ativa nos diversos departamentos e ministérios da Igreja.

A fé proporciona ao cristão experiências indeléveis, algumas delas indiscutíveis e todas abençoadoras. A fé agrada a Deus Pai, e um filho sincero quer sempre deixar o coração do Pai feliz.

A fé nos aproxima de Deus, fonte de toda benção, abrigo para todas as tempestades e proteção continua contra todas as adversidades. Não há melhor lugar para o crente do que viver perto de Deus e quanto mais fé deposito Nele, mais Dele eu me aproximo. A Bíblia diz que sem fé é impossível agradar a Deus que se aproxima dos que confiam em sua Graça, Bondade e Poder.

A fé é recompensada: na História e na Eternidade; na vida e depois da morte; na terra e no céu. Deus responde a fé do crente. O Senhor premia aos que Nele depositam sua esperança.

Quando chegamos à Casa do Pai Celestial, nossa fé vai ouvir: “Bem está servo bom e fiel; sobre o pouco foste fiel, sobre o muito te colocarei. Entra no gozo do teu Senhor.” ( Mateus 25:23)

domingo, 13 de março de 2011

Eu quero ser melhor!


Reflexão de: Felipe d'Oliveira

Ser melhor,
andei pensando na minha vida e em momentos distintos com amigos, familiares e pessoas de leve convivência e reparei que ninguém, inclusive eu, é perfeito. Ao ver pessoas que marcaram a história mundial podemos nos deparar com pessoas imperfeitas correndo atrás de uma mera perfeição alheia que lhes dessem a sensação de ser melhor.
A Bíblia mostra que não há perfeição no ser humano após a queda do homem, todos somos concebidos inimigos de Deus, porém Jesus veio e reconstruio está ponte que nos afasta de Deus, sendo assim, nos podemos nos reconciliar com Deus atravez de Jesus e com a graça do Espírito Santo que nos consola.
Quero ser melhor, e para ser melhor tenho que aprender com quem mesmo sendo o maior se alto-considerou o menor [Cristo].
Quero ser melhor amigo, dar o ombro pros meus amigo chorarem e chorar junto com eles.
Quero ser melhor abraçando a causa dos injustiçados pelo sistema.
Quero ser melhor ajudando os orfão abandonados e as viúvas e doentes esquecidos por nós memos.
Quero ser melhor dando mais valor a um sorrizo de uma criança do que ao carro na garagem.
Quero ser melhor amando mais minha filha.
Quero ser melhor ajudando minha familia e com ela vencendo os laços de satanás.
Quero ser melhor evitando contendas que aparecem em nossos dia-a-dia.
Quero ser melhor deixando a graça e o amor de Deus levarem minha vida para onde ela tem que caminhar, seja com alegria ou com tristeza.
Quero ser melhor olhando pro Cristo e amando o humano.

quinta-feira, 3 de março de 2011

A Santa Cidade


Estudo de: Pr. Mário Pereira da Silva

Esta é uma das designações que a Bíblia Sagrada atribui ao destino eterno do salvo. Eu e você vamos morar na Cidade Santa! Quando esta expressão aparece na descrição apocalíptica, a beleza e felicidade que se desfrutam nela estão nas coisas que não existirão na cidade. Diz a Escritura, em Apocalipse 21:4: “ Ele enxugará de seus olhos toda lágrima, e não haverá mais morte, nem haverá mais pranto, nem lamento, nem dor, porque já as primeiras coisas são passadas.”

As coisas que tiram nossa alegria e paz na vida terrena desaparecerão na vida celestial. O que angustia e entristece o nosso coração na história não existirão na eternidade. Efetivamente, esta cidade é Santa, especial, diferenciada, separada, inimaginável.

Acrescenta-se o fato que a iluminação da cidade é de um esplendor sem medida e impossível de ser descrito: “ A cidade não necessita nem do sol, nem da lua, para que nela resplandeçam, porque a glória de Deus a tem alumiado, e o Cordeiro é a Sua lâmpada.” ( Apocalipse 21:23)
Aquele que disse, na história, ser a luz do mundo, é quem ilumina a eternidade.

A Cidade Santa tem o registro completo e perfeito de seus moradores. “ E não entrarão nela coisa alguma impura, nem o que pratica abominação ou mentira; mas somente os que estão inscritos no livro da vida do Cordeiro.” ( Apocalipse 21:27)

Os crentes, salvos por Jesus, de todas as épocas, caminham para nova Jerusalém, a Santa Cidade, seguindo, servindo e amando o Senhor de suas vidas e Salvador de suas almas. E todos quantos quiserem viver nesta cidade terão que andar pelo único caminho que conduz ao Céu e entrar pela única porta de acesso à festiva cidade: Jesus Cristo!

“ E vi a Santa Cidade, a nova Jerusalém, que descia do Céu da parte de Deus, adereçada como uma noiva ataviada para o seu noivo.” ( Apocalipse 21:2)

domingo, 20 de fevereiro de 2011

Deus


Fenelón
Traité de l’existence de Dieu, II parte, Cap. V


“Tu és tão grande e tão puro em tua perfeição, que tudo o que suponho de meu na ideia que tenho de ti faz com que imediatamente não seja mais tu mesmo. Passo minha vida a contemplar teu infinito; vejo-o e não poderia duvidar dele: mas assim que quero compreendê-lo, escapa-me, não é mais ele, torno a cair no finito. Vejo o bastante para me contradizer, e para me corrigir todas as vezes que concebo o que é menos que tu mesmo; mal, porém, me levanto e torno a cair com meu próprio peso”.

sexta-feira, 11 de fevereiro de 2011

Como viver na dimensão da eternidade


Pastoral de: Rev. Hernandes Dias Lopes

O apóstolo Paulo em sua Segunda Carta aos Coríntios, capítulo quatro, versículos dezesseis a dezoito nos ensina a viver na dimensão da eternidade. Nossos pés estão na terra, mas nosso coração está no céu. Vivemos neste mundo como peregrinos, mas estamos a caminho da nossa Pátria permanente. Três verdades saltam aos nossos olhos no texto em apreço. Essas verdades nos direcionam nessa caminhada rumo à glória.

1. Temos um corpo fraco, mas um espírito renovado.“Por isso, não desanimamos; pelo contrário, mesmo que o nosso homem exterior se corrompa, contudo, o nosso homem interior se renova de dia em dia” (2Co 4.16). Nossa fraqueza física é notória e indisfarçável. O tempo esculpe em nossa face rugas profundas. Nossas pernas ficam bambas, nossos joelhos trôpegos e nossas mãos descaídas. Cada fio de cabelo branco que surge em nossa cabeça é a morte nos chamando para um duelo. Nosso homem exterior, ou seja, nosso corpo enfraquece-se progressivamente. Mas, ao mesmo tempo, nosso homem interior, ou seja, nosso espírito renova-se de dia em dia, sendo transformado de glória em glória na imagem de Cristo. Ao mesmo tempo em que o nosso corpo se enfraquece, nosso espírito se fortalece. Na mesma proporção que o exterior se corrompe, o interior se renova. Temos um corpo fraco, mas um espírito forte.

2. Temos um presente doloroso, mas um futuro glorioso. “Porque a nossa leve e momentânea tribulação produz para nós eterno peso de glória, acima de toda comparação” (2Co 4.17). Aqui pisamos estradas juncadas de espinhos, cruzamos vales escuros e atravessamos desertos tórridos. Aqui nossos olhos ficam empapuçados de lágrimas e nosso corpo geme sob o látego da dor. Aqui enfrentamos ondas encapeladas, rios caudalosos e precisamos atravessar fornalhas ardentes. Aqui sofremos, choramos e sangramos. Porém, em comparação com a glória por vir a ser revelada em nós, nossas tribulações são leves e passageiras. O presente é doloroso, mas o futuro é glorioso. Nosso destino final não é um corpo caquético, mas um corpo de glória. Nossa jornada não termina num túmulo gélido, mas na Jerusalém celeste. Nosso fim não é a morte, mas a vida eterna. O nosso futuro de glória deve encorajar-nos a enfrentar com alegria a nossa presente tribulação. O que seremos deve nos encher de esperança para arrostar as limitações de quem somos. Vivemos na dimensão da eternidade!

3. Temos as coisas visíveis que são temporais, mas as coisas invisíveis que são eternas. “Não atentando nós nas coisas que se veem, mas nas que se não veem; porque as que se veem são temporais, e as que se não veem são eternas” (2Co 4.18). O visível e tangível que enche nossos olhos e tenta seduzir nosso coração é aquilo que não vai permanecer. Tem prazo de validade e não vai durar para sempre. Mas, as coisas que não vemos são as que têm valor e vão permanecer para sempre. Investir apenas naquilo que é terreno e temporal é fazer um investimento insensato, pois é investir naquilo que não permanece. Investir, porém, nas coisas invisíveis e espirituais, é investir para a eternidade. Jesus diz que devemos ajuntar tesouros lá no céu, pois o céu é nossa origem e nosso destino. O céu é nosso lar e nossa pátria. Nosso Senhor está no céu. Muitos dos nossos irmãos já foram para o céu e nós, que fomos remidos e lavados no sangue de Jesus estamos a caminho do céu. Lá está o nosso tesouro. Lá está a nossa herança. É lá que devemos investir o melhor do nosso tempo e dos nossos recursos. Atentar apenas nas coisas que se veem e que são temporais é viver sem esperança no mundo; mas buscar as coisas que os olhos não veem nem as mãos apalpam é viver na dimensão da eternidade, com os pés na terra, mas com o coração no céu!

segunda-feira, 31 de janeiro de 2011

Pensando por ai...


Pensamento de: Felipe d'Oliveira

Não existe familia perfeita, nem na Biblia.
E a propria Biblia não máscara isso.
Não existe dor que não se cure e não existe tempo que não passe.
Há tempo para tudo, tanto no céu quanto na terra [Eclesiastes 3].
Mais não há felicidade completa como há de servir a Deus e ser feliz com a mulher da sua juventude.
Andei por ai chorei muito, fui feliz também, porem os instantes pequenos de alegria guardei no meu bornal e os momentos de intensidade de contradições deixei jogado na estrada e lembro somente deles quando quero superar novos desafios.
Queria ser melhor porem sou o que Deus quer que eu seja, apenas eu!
Forças não tenho, mais Yahweh me ajuda a superar qualquer inconstancia da vida!
Fecho dizendo, familia perfeita? é não existe, e isso me faz pensar que ainda posso ter a minha familia e mesmo em meio a tempestade e aos caminhos escuros continuar guardando felicidade no meu bornal.

sexta-feira, 28 de janeiro de 2011

Atravessando o sofrimento


Pastorial de: Pr Ariovaldo Ramos

Sofrimento é o intervalo possível e inevitável entre a aniquilação merecida e a redenção graciosa.
Tudo o que existe, existe em Deus (At 17.28), quando rompemos com Deus perdemos o local da existência.
Nós deveríamos ter deixado de existir. Deus, porém, não o permitiu, manteve-nos.
Para isso arcou com o custo que a justiça impunha: esvaziou-se no Deus Filho. E foi o primeiro movimento da história da redenção, antes da criação de qualquer criatura. (1Pe 1.18-20)
O esvaziamento é a morte de um Deus: não perde a sua natureza, mas abre mão de suas prerrogativas divinas. (Fil 2.5-8)
A cruz, na história humana, é a manifestação, possível, desse esvaziamento que, satisfazendo o princípio da justiça, permitiu que a Trindade atuasse por graça.
O cumprimento do principio de justiça não poderia ser relativizado, sob pena de perda de credibilidade por parte de Deus. (Ez 18.20)
Todo mau uso da liberdade impõe uma consequência. Para que a criação não desaparecesse o Deus Filho se esvaziou.
Quando, ao romper com Deus, não fomos aniquilados, nos tornamos malvados, porque ao dizer não a Deus, dissemos não a tudo o que Deus disse de nós: que seríamos sua imagem e semelhança. O mal que, antes, só podia ser pensado como tese, agora tinha manifestação histórica.
Se a maldade, porém, se tornasse o tom determinante de nossa história, nossa sobrevivência estaria ameaçada da mesma forma, há um limite para a expansão do mal (Gn 6.5-7; 15.16).
Deus, então, por graça, empresta as suas qualidades a nós, o que garante sobrevida com qualidade mínima, para que possamos sobreviver na nova história, enquanto Deus faz o que tem de ser feito para salvar a nossa história e a nós, nela. (At 14.17)
E nos tornamos paradoxos (Rm 7), carregamos o bem e o mal em nós. E o paradoxo é estado de sofrimento.
Os opostos deveriam se aniquilar, mas, a graça divina não o permite.
O esvaziamento do Deus Filho, num primeiro momento, pela deflagração da graça, permitiu o desaceleramento do caos, estabelecendo o paradoxo em toda a criação. E o paradoxo é estado de sofrimento.
Deus, aliás, criou um mundo pronto para o paradoxo, onde convivem o bem e o mal, o dia e a noite, a vida e a morte. Um mundo cuja estabilidade está, portanto, na ação graciosa da Trindade. (Hb 1.3)
Deus criou um mundo temporário para o intervalo do sofrimento, que é, por definição, temporário.
Um mundo temporário, porque o mundo definitivo só tem bem, vida, luz e bem-aventurança. (Ap 21.1; 22.1-5)
Deus, de várias formas falou pelos pais e pelos profetas e, finalmente, pelo Filho, ensinando-nos a conviver nesse e com esse intervalo, de modo a torná-lo menos insuportável. A chave é o amor como moto de tudo e para todos os atos.
A graça, com que Deus socorre a todas as criaturas, desacelera a volta para o caos, para onde tudo teria de ir imediatamente após a ruptura humana. O aniquilamento dá lugar ao sofrimento, resultado da ação restauradora dessa graça, que estabelece o paradoxo pela infusão de vida num ambiente que deveria ser só morte, se a morte pudesse ser, e que, também, torna possível passar por esse intervalo: o sofrimento.
O esvaziamento do Deus Filho, que, num primeiro momento, permitiu o desaceleramento do caos, tornou o caos uma impossibilidade.
Na ressurreição, o Filho do Homem teve comprovada a eficácia do esvaziamento do Deus Filho. A ressurreição é a comprovação da vitória sobre o aniquilamento e o caos. (1 Co 15.54,55)
Na ascensão o Filho de Deus retomou (o que nunca perdera na essência) sua condição de Deus Filho. (Jo 17.4,5)
Tudo estava consumado e o fim da história é a Vida!
É nessa certeza que atravessamos o intervalo, que é estado inevitável de sofrimento; inevitável, mas, administrável, e que pode ter a intensidade diminuída pelo amor. Portanto, amar é nosso desafio e missão