sexta-feira, 20 de setembro de 2013

De que vale a vida?



Texto de: Felipe d'Oliveira


De que vale a vida se você não compartilha?
De que vale a vida se você não sorri?
De que vale a vida se você não tem amigos?
De que vale a vida se você não vê beleza no cair da tarde?
De que vale a vida se você não tem amigos?
De que vale a vida se você não tem um amor?
De que vale a vida se você não guarda a natureza?
De que vale a vida se você vive com integridade?
De que vale a vida se você não sonhar?
De que vale a vida se você nunca chorou por alguém?
De que vale a vida se você não ama?
De nada vale viver, sem o próximo por perto de você, é como estar em uma sala isolada ouvindo apenas a própria voz e vendo a própria sombra, sem um abraço, um sorriso, um beijo, um carinho ou um bom conselho.
De que vale a vida sem a criação?

quarta-feira, 16 de janeiro de 2013

Mudança de endereço




Texto de: Pr. Ariovaldo Ramos

"voz do que clama no deserto: preparai o caminho do Senhor, endireitai as suas veredas;" (Mc 1.3)

quem está no deserto, e que precisa de voz, de porta-voz? Deus!

Deus mudou de endereço, saiu do templo!

e Lucas, no capítulo 3.1,2, explica o porquê: o templo tinha sido corrompido, haviam dois sumo-sacerdotes: Anás e Caifás - o que é uma contradição de termos.

por definição, só pode haver 1 sumo-sacerdote.

informa Flávio Josefo (escritor e historiador judeu que viveu entre 37 e 103 d.C, no livro: "A História dos Hebreus"), que Anás, esperto e populista, foi, segundo interesse do império, tornado sumo-sacerdote por Quirino, governador romano da Síria, em 6 d.c, sendo demovido em 15 d.c por Valério Crato,antecessor de Pilatos, porém, manteve-se como iminência parda controlando os seus sucessores, 

ele colaborou com os tiranos, e consequiu ser sucedido por cada um de seus cinco filhos, e por seu genro Caifás, que, como ele, exerceram o sumo sacerdócio a serviço da tirania.

mas Deus não participa de conchavos e de venalidades, mesmo que jurem estar fazendo em nome dele e pela sua causa. 

e Deus saiu do templo e foi para o deserto.

ecoa aqui a fala do Senhor Jesus: "nem todo o que me diz: Senhor Senhor! entrará no reino dos céus, mas aquele que faz a vontade de meu Pai, que está nos céus." (Mt 7.21)

a comunidade da fé, que é uma comunidade de sacerdotes, que só tem a Jesus, como sumo-sacerdote, tem de denunciar a todos os que, dizendo agir em nome do Senhor, fazem conchavos e praticam a venalidade, atraiçoando a causa da cruz.

eles estão vazios, como vazio ficou o templo quando Deus mudou de endereço, e tudo que eles fazem não tem sentido algum, como sem sentido ficaram todos os rituais do templo, porque Deus não estava mais lá para apreciá-los ou recebê-los.

a comunidade da fé tem de enfrentar aos impostores, porque eles não têm o amparo da Trindade.

o Cristo não poderia andar pelos caminhos que o Israel, de então, tinha para apresentá-lo ao mundo.

era o caminho do conchavo com os romanos, com os donos do poder; o caminho da politicagem, e, mesmo os libertários, estavam em busca de interesses particulares.

esses não eram caminhos direitos:

os zelotes (partido da luta armada contra os invasores) escolheram a violência contra os invasores; o caminho de Jesus é o da não violência (Mt 5.39).

os fariseus (partido ortodoxo) escolheram a complacência com os dominadores; o caminho de Jesus é o da denúncia (Jo 18.22,23).

os saduceus (partido heterodoxo dos sacerdotes) escolheram a cumplicidade com os opressores; o caminho de Jesus é o do confronto (Lc 18.31,32).

os publicanos (colaboracionistas de Roma) escolheram o serviço aos tiranos; o caminho de Jesus é o do serviço aos oprimidos (Mt 11.2-5), como reação e denúncia aos pretensos senhores do poder (Mt 20.25).

e os essênios (partido fundamentalista) escolheram o caminho de fuga, esconderam-se nas cavernas; o caminho de Jesus é o de iluminar o mundo pela vida, mensagem e pelas boas obras, e de resistir à perseguição por causa da justiça (Mt 5.10-16).

aqueles não eram caminhos direitos, porque não eram caminhos de Deus.

o salvador não poderia apresentar-se por meio de nenhum daqueles caminhos, se quisesse salvar o mundo (Jo 3.17)

o messias tem uma mensagem de reconciliação para todos, mas só anda pelo caminho de Deus; o caminho da Trindade é o de "evangelizar os pobres, proclamar a libertação aos cativos e restauração de vista aos cegos, de por em liberdade os oprimidos, e apregoar o ano aceitável do Senhor" (Lc 4.18).

sexta-feira, 11 de janeiro de 2013

A missão espiritual do cristianismo e o espírito do capitalismo




Texto de: Jung Mo Sung

A missão das igrejas cristãs é, como sempre foi, uma missão espiritual. O que diferencia as igrejas de outras organizações sociais é, entre outras coisas, o caráter explicitamente espiritual da sua missão, da sua razão de existir. Deixar de tratar da espiritualidade ou colocar esse tema em segundo plano é um caminho que leva à perda da identidade e credibilidade das igrejas.
Mas, em que consiste a espiritualidade? Um dos grandes equívocos das pessoas ou grupos religiosos preocupado com esse tema é pensar que o mundo moderno, por não ser mais religioso como era antigamente, carece de espiritualidade. Isto é, a espiritualidade é entendido como algo que só existe dentro das religiões ou de correntes que se assumem explicitamente como espirituais. Por isso, a missão das igrejas cristãs seria a de levar a espiritualidade a um mundo sem espírito.
Nesse tipo de visão, a espiritualidade é sempre vista positivamente. Há grupos que diferenciam, corretamente, a espiritualidade da religião e defendem a prioridade da espiritualidade sobre a religião; outros chegam a negar a possibilidade de se viver espiritualidade dentro das religiões tradicionais por causa do seu ritualismo mecânico e seus dogmatismos autoritários desvinculados da vida cotidiana. Porém, mesmo esses predomina a ideia essencialmente positiva de todas as espiritualidades.
Penso que esse equívoco se deve em grande parte à aceitação da "falsa propaganda” do mundo moderno que se diz ilustrado, racional, secularizado e, portanto, pós-religioso. Com isso, questões espirituais e religiosos ficariam restritos ao campo privado ou restrito aos grupos religiosos. O aumento do número de religiosos ou crentes em Deus não modificaria o fato de que o "mundo moderno” como tal é regido por razão e princípios da secularização. Diante de um mundo assim, os que não aceitam esse "ateísmo” moderno defendem a espiritualidade de um modo abstrato.
Para sairmos desse equívoco, precisamos repensar o que significa o "espírito”. Tanto em grego (pneuma), quanto em hebraico (ruah), a palavra "espírito” significa também "sopro”, "vento”, mostrando que o espírito é a força que move e dá direção uma pessoa ou uma sociedade. Um grande número de pessoas não formam por si um grupo ou sem não forem movidos por um mesmo "espírito” (temos a expressão "espírito de equipe”), assim como uma sociedade ampla como a atual não caminharia em uma direção mais ou menos definida se não fosse movida por um espírito. O famoso livro de Max Weber "A ética protestante e o espírito do capitalismo” trata exatamente do surgimento de um novo espírito que move um tipo particular de sociedade, a capitalista.
Weber sintetizou, no início do século XX, o que ele entende por esse espírito dizendo: "O homem é dominado pela produção de dinheiro, pela aquisição encarada como finalidade última da sua vida. A aquisição econômica não mais está subordinada ao homem como meio de satisfazer suas necessidades materiais. Esta inversão do que poderíamos chamar de relação natural, tão irracional de um ponto de vista ingênuo, é evidentemente um princípio orientador do capitalismo, tão seguramente quanto ela é estranha a todos os povos fora da influência capitalista”.
A ganância ilimitada e o desejo ilimitado de consumo e ostentação são características fundamentais da espiritualidade que move o capitalismo global hoje. É essa espiritualidade que move o mundo globalizado em direção ao agravamento da crise social (aumento da desigualdade) e ambiental.
É contra esse tipo de espiritualidade que devemos viver e anunciar a vida em Espírito de Jesus Ressuscitado. Espiritualidade verdadeiramente cristã e humanizadora não é aquela que nos retira desse mundo para um mundo "celestial”, nem nos dá força para realizarmos os desejos nos impostos pela cultura de consumo, mas sim nos dá força para vivermos amor-solidário nesse mundo.
Dessa reflexão, podemos tirar algumas conclusões: a) as igrejas não pregam espiritualidade a um mundo sem espírito, mas sim a um mundo onde se vive uma espiritualidade desumanizadora e destruidora da meio ambiente, uma espiritualidade idolátrica; b) nem toda espiritualidade é boa, humanizadora, portanto é preciso desmascarar a espiritualidade capitalista e também discernir se as espiritualidades que as igrejas propõem são realmente nascidas do evangelho ou não; c) espiritualidades religiosas que nos fazem esquecer dos conflitos e problemas do mundo e nos "elevam” para o mundo "celestial”, por mais atraentes que sejam, não são espiritualidades cristãs, pois o Espírito de Deus não vem para nos tirar do mundo (cf Jo 17), mas para nos dar força para vivermos nossa fé, agindo solidariamente na luta pela Vida; d) lutas sociais e políticas não são meramente sociais e políticas, mas são também expressões visíveis de diferentes espiritualidades.