sexta-feira, 13 de maio de 2011

Suprema dependência.


Reflexão do: Pr. Ricardo Gondim

Para Alysson Amorim.

“Como um pai tem compaixão de seus filhos, assim o Senhor tem compaixão... pois ele sabe do que somos formados; lembra-se que somos pó” – Salmos 103 13-14.

Somos óbvios. Convivemos com poucas opções. Não alçamos vôo. A receita do ar que respiramos não tolera variações. Com um pouco de inatividade, atrofiamos os músculos dos pés e das mãos - e do coração. Nosso sangue não pode desequilibrar. Nossa temperatura sobe cinco graus e convulsionamos.

Somos limitados. O dicionário da nossa linguagem cotidiana não lota cem páginas. O espectro da nossa audição não alcança a categoria canina. Intuímos, mas não entendemos a nossa percepção. Intolerantes à dor, desesperamos. As altitudes nos enfraquecem, os vales nos oprimem, os oceanos nos perdem.

Somos efêmeros. Não sobrevivemos às carpas. Nossa pele enruga com pouco sol, os olhos se embaçam com quatro décadas e os pêlos caem sem razão. Sacrificamos o paladar em nome da saúde, mas não conseguimos driblar a decadência. Os primeiros anos da infância jazem no inconsciente, os últimos, da velhice, na demência.

Somos carentes. Precisamos de companhia. A impertinência do outro é melhor que a solidão. Procuramos os desertos e choramos de saudade. A irritação é insuficiente para nos afastar do amor. Frágeis, suplicamos por abraços. Um sentimento de orfandade nos acorda todas as manhãs, e saímos em busca de colo. No crepúsculo, suplicamos por abrigo e canção de ninar.

Dependemos da Graça não por sermos maus, mas delicados.